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Crise de saúde mental no Brasil: como superar esse desafio?

*Por Nayara Teixeira

 


A crise de saúde mental tem impactado cada vez mais brasileiros ao longo dos últimos anos. Segundo o relatório global World Mental Health Day 2024, divulgado em outubro, o país é o 4º que mais sofre com esses distúrbios. A preocupação com a saúde mental é recente para a maior parte das pessoas, sendo que, em 2018, segundo o documento, apenas 18% dos entrevistados citaram alguma apreensão em relação ao bem-estar psicológico. No entanto, após a pandemia, houve um salto dessa porcentagem, chegando a 40% em 2021, 49% em 2022 e 52% no ano passado, atingindo um novo pico em 2024, com 54%.


 

Além disso, de acordo com dados coletados pelo Ministério da Previdência Social, no ano passado, foram quase meio milhão de afastamentos de profissionais dos seus cargos, o maior número em pelo menos dez anos. A pesquisa mostrou que os transtornos mentais chegaram a uma situação incapacitante como nunca visto. Apesar de atingir o seu pico na pandemia, tem se tornado uma questão cada vez mais presente no dia a dia dos brasileiros, uma vez que estão ganhando consciência que a questão emocional importa tanto quanto a física.


Ignorar essa nova realidade pode agravar ainda mais o problema, tornando as disfunções comportamentais mais frequentes e intensas. Entretanto, muitas condições podem não ser uma patologia no início, mas se transformam em uma síndrome do burnout, do pânico ou ansiedade generalizada, se não forem tratadas. Dessa forma, o primeiro passo é procurar ajuda e identificar os sintomas para que seja realizado um diagnóstico.


No ambiente corporativo, por sua vez, as estratégias para melhorar a saúde mental dos colaboradores envolve, inicialmente, a realização de uma análise psicossocial e a criação de um espaço laboral mais seguro. Adotar políticas de tolerância zero contra assédio e discriminação, promover a igualdade de oportunidades e valorizar a diversidade de etnia, cultura, gênero, idade e orientação sexual também são medidas que ajudam a deixar o trabalhador mais confortável e contemplado.

 

Sendo assim, para enfrentar a crise é preciso reestruturar como o trabalho e as relações interpessoais estão estabelecidas. Não basta somente oferecer assistência psicológica para resolver o problema, é preciso buscar uma prevenção para que isso não aconteça mais. Trata-se de um processo interno, que deve ser apoiado por intervenções de saúde pública de conscientização e fornecer uma escuta sem julgamentos.

 

Identificar aspectos como influências socioculturais, traços de personalidade, comportamento de risco, stress, entre outros construtos, por meio de orientações personalizadas, faz com que os colaboradores tenham mais facilidade de expressar as suas dificuldades e receios em relação ao ambiente de trabalho. Além disso, outro procedimento essencial a ser adotado é a capacitação dos gestores em identificar sinais de abalo emocional e atuar de forma empática.

 

Vale reforçar que o profissional precisa se sentir não apenas seguro, mas também motivado em suas atividades. Portanto, é importante implantar a cultura do feedback positivo e incentivar o reconhecimento de esforços e conquistas, promovendo um ambiente de apoio. Para quem exerce uma função que exige ficar na frente das telas, por exemplo, as empresas podem estimular a desconexão após o expediente para preservar a vida pessoal.

 

Por fim, ressalto que a saúde mental ganha protagonismo e, com isso, espera-se que as pesquisas sirvam de alerta para que empresas tratem o assunto como prioridade dentro da estrutura organizacional. Facilitar o acesso à terapia e ao suporte psicológico, além de utilizar ferramentas tecnológicas que permitam um diagnóstico organizacional focado nos aspectos psicossociais, são iniciativas que as organizações podem e devem fazer para melhorar o dia a dia dos trabalhadores e garantir um ambiente mais saudável para se trabalhar.

 

*Nayara Teixeira é Diretora de Produto e Operações da Mapa HDS. É Psicóloga, Mestre em Psicologia pela PUC-MG, e pós-graduada em Psicologia Organizacional e do Trabalho pela PUC-MG, e realizou pesquisa sobre fatores psicossociais no trabalho de profissionais de Tecnologia. Ela é integrante do grupo de pesquisas PSITRAPP da PUC-MG e do CT - Saúde Mental e Riscos Psicossociais Relacionados ao Trabalho - ABERGO.

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